Penedos, feita durante 18 de Abril de 1922, com Gago Coutinho, nas suas simples palavras:
“[…] Após 11h e 21 minutos de voo, o gás estava a esgotar-se.
O Penedo – algumas rochas não muito altas – só pode ser visto muito perto, a partir dos 300 metros de altura que estávamos a voar.
No entanto, quando estávamos a voar junto aos pequenos barcos que a “República” tinha na água – agitados pela “grande ondulação”, o avião “Lusitânia” perdeu um dos flutuadores, que se desfez porque era feito de madeira apodrecida.
Isto surpreendeu-nos porque, após os 1600 Km de voo sem apoio, queimados os nossos 700 Kg de gasolina, o avião estava a ficar leve.
Não foi sequer possível salvar o fiel motor [Roll-Royce Eagle VIII], que nos tinha levado até àquelas pedras insignificantes!
Elas já eram terras brasileiras, embora inabitáveis.
A prioridade portuguesa tinha sido repetida, quatro séculos e meio depois de as nossas Caravelas terem atravessado o equador.
E carregávamos pintadas nas nossas asas a mesma “Cruz Vermelha de Cristo” com que os nossos “Caravelistas” singraram – como cantava Camões – “aqueles mares” e “os novos Ares que o generoso [Príncipe] D. Enrique [o Navegador] descobriu”.
Por outro lado, aqueles que nos esperavam a bordo do Cruzador República no Penedo, pairando, informados pela rádio sobre a nossa partida de Cabo Verde, tinham vivido todo aquele dia num estado de ignorância: o que se passava a bordo do avião?
Até que à noite, ao avistarem-nos no céu, ao norte, tiveram uma extraordinária comoção de surpresa e prazer.
Simples geógrafos tinham demonstrado ao mundo a possibilidade de atravessar o ar, com a mesma segurança e autonomia com que os navios o faziam. “
Infelizmente, a Lusitânia perdeu-se no desembarque, devido às ondas. Mas a viagem ainda não terminou.
O apoio entusiasta dos portugueses, brasileiros e cabo-verdianos permitiu que a viagem prosseguisse: foram encontrados fundos e apoio para a continuação da viagem.
Os grandes jornais levaram a cabo campanhas de angariação de fundos, para a continuação desta maravilhosa aventura que uniu um irmão separado por um Atlântico Sul.
A descrição da travessia vai continuar até 17 de Junho, data de chegada ao Rio de Janeiro. – Junte-se a nós e desfrute! JMF