Firmada a escolha do motor por Sacadura Cabral no Rolls-Royce Eagle VIII, “(..) aquele que afoitamente se pode afirmar ter dado as suas provas e que considero o melhor (..)”, ficou também selada a necessidade de optar por um xúltima, pela facilidade de modificação do aparelho para a missão desejada.
O Fairey IIID foi assim o hidroavião selecionado por Sacadura Cabral para a Travessia de 1922, tendo sido foram usados três aviões:
– F 400, “Lusitânia” – Um hidroavião, Fairey III, modificado, designado “Trans-Atlantic Load Carrier”. Partiu de Lisboa em 30 de Março de 1922, e fez escala nas Canárias e em Cabo Verde.
Realizou o “Grande Salto” entre Cabo Verde e os Penedos de S. Pedro e S. Paulo: uma viagem de 1682 km, feita em 11 H e 21 min., no coração do Atlântico Sul.
Sem qualquer ajuda exterior, sem rádio, contando apenas com a navegação astronómica, conseguiram chegar a uns pequenos rochedos perdidos no meio do mar. Nessa época, ninguém se atrevia a fazer uma viagem semelhante.
Antes da partida: O “Lusitânia” no hangar da Aviação Naval, na doca do Bom Sucesso, em Belém, Lisboa. Reconhece-se por ter 3 pares de montantes, em cada asa, o que o torna num avião único.
– F 401, “Portugal” (Hidroavião Nº 16, da Aviação Naval) – É um Fairey III B. Partiu de Fernando de Noronha, em direcção aos Penedos, e regressou, com destino ao Recife. Após ter percorrido 890 km, em 6 H e 34 min., teve uma falha de motor, e perdeu-se no mar.
Os aviadores estiveram à deriva, sozinhos, entre as 15H30 e as 00H35, hora a que foram recolhidos pelo navio “Paris City”, sob o comando do Capitão A. E. Tamlyn.
O Fairey nº 16, sendo arriado do navio “Bagé”, em Fernando de Noronha. Reconhece-se pela diferença de envergadura das asas superior e inferior. Fonte: Cinemateca Portuguesa
– F 402, “Santa Cruz” (Nº 17) – É um Fairey IIID, com um motor Rolce Royce Eagle VIII. Completou a Travessia, entre Fernando de Noronha e o Rio de Janeiro. em Lisboa. Posteriormente, prestou serviço no Continente, e em Macau.
Para além do hidroavião, com o motor Rolce Royce Eagle VIII, existente no Museu de Marinha, em Lisboa, (e das duas réplicas não-voáveis, de Alverca (Museu do Ar) e do Monumento da Travessia, (Belém)), não existe mais nenhum aparelho original em todo o Mundo.
Todos estavam equipados com o motor escolhido por Sacadura Cabral: um Rolls-Royce V8, Eagle VIII, de 350 HP.
Foi usado por diversas forças aéreas, nomeadamente a inglesa, a australiana, a argentina, a holandesa, e a aero-naval portuguesa, entre outras. É um aparelho com larga tradição no mundo da aeronáutica.
Galeria de imagens do “Santa Cruz”, no Museu de Marinha, em Lisboa, da autoria de Ricardo Reis:
https://www.flickr.com/photos/rreis/albums/72157677764567991/with/32109937000/
O Fairey IIID surge como protagonista central na narrativa da primeira travessia aérea do Atlântico Sul. Este hidroavião foi selecionado especificamente pelas suas características técnicas avançadas, tendo sido adaptado para resistir às exigências da missão. A versão F.400, conhecida como Lusitânia, apresentava asas de envergadura alargada e depósitos suplementares de combustível, essenciais para os longos trechos oceânicos, aspetos decisivos para o sucesso da aventura protagonizada por Gago Coutinho e Sacadura Cabral (marinha.pt, en.wikipedia.org).
O Fairey IIID destaca‑se por ser uma evolução robusta das variantes anteriores da família Fairey III. Em 1920, a versão IIID incorporava um motor Rolls‑Royce Eagle VIII ou, em execuções posteriores, o mais potente Napier Lion (en.wikipedia.org). A fuselagem era construída em madeira revestida a tela, e tinha flutuadores que permitiam o amarar e reabrir no mar, tornando‑o ideal para a travessia atlântica onde aeródromos eram inexistentes. Este avião podia ser lançado por catapulta e tinha asas rebatíveis — design pensados para operação naval (en.wikipedia.org).
O balanço entre autonomia, velocidade e resistência tornou o Fairey IIID particularmente adaptado ao projecto português. O F.400 foi entregue em 30 de março de 1922 e iniciado com um voo que cruzou várias paragens, como Las Palmas e São Vicente. Infelizmente, este primeiro Fairey IIID, o “Lusitânia”, perdeu‑se nos Penedos de São Pedro e São Paulo após abastecimento (en.wikipedia.org). Seguiu‑se o F.401, outro Fairey IIID modificado, que também se afundou após falha de motor (ex-ogma.blogspot.com). Finalmente, o último Fairey IIID, designado “Santa Cruz” (F.402), conseguiu concluir o percurso e aterrou com êxito no Rio de Janeiro a 17 de junho de 1922 (ex-ogma.blogspot.com).
– Envergadura: aproximadamente 14,05 m
– Comprimento: próximo de 11 m
– Motor: Roll‑Royce Eagle de ~375 hp ou Napier Lion de ~450 hp
– Velocidade máxima: cerca de 163 km/h
– Alcance: entre 800 e 900 km em configuração normal, excedendo com depósitos extras (aeropedia.com.au, de.wikipedia.org)
Estas características tornaram o Fairey IIID numa ferramenta indispensável. A autonomia foi aumentada com depósitos adicionais, as asas mais compridas reduziram o consumo e os flutuadores permitiram adaptações perfeitas à operação marítima. Sem essas modificações, a travessia não teria sido viável.
O Fairey IIID foi largamente adotado por diversas forças aéreas e navais. A Royal Air Force (RAF), a Fleet Air Arm (FAA) britânica e outros países como Austrália, Suécia, Holanda, e principalmente Portugal, mantiveram exemplares deste modelo (www2.fab.mil.br, es.wikipedia.org).
Em Portugal, a Aviação Naval empregou onze Fairey IIID, incluindo variantes com motor Napier Lion, tornando‑os centrais em missões de vigilância e projeção de poder. Além da histórica travessia, o Fairey IIID foi usado posteriormente em Macau e no continente para testes e demonstrações (en.wikipedia.org).
Na Austrália, seis Fairey IIID foram adquiridos em 1921. Um deles, o ANA.3, completou a circunavegação da Austrália em 44 dias e foi galardoado com o Britannia Trophy, evidenciando a adaptabilidade do Fairey IIID a terrenos e condições extremas (en.wikipedia.org).
A RAF também enviou vários Fairey IIID em missões de longa distância, nomeadamente no voo do Cairo a Cidade do Cabo em 1926 e em patrulhas no Extremo Oriente visando interesses britânicos em Xangai durante os conflitos regionais .
O Fairey IIID marcou uma era de transição na aviação militar e naval. As suas inovações — motores potentes, flutuadores, asas rebatíveis e compatibilidade com catapultas — foram posteriormente aplicadas em variantes como o Fairey IIIF, que continuaram a tradição de versatilidade e fiabilidade .
O design do Fairey IIID influenciou o desenvolvimento de aviões marítimos posteriores, contribuindo para o progresso de técnicas de lançamento aéreo a partir de navios e para a integração em plataformas navais. A estrutura robusta e as características multiopção demonstraram a utilidade de projetar aviões para operar tanto a partir de terra como de mar.
Hoje em dia, o Fairey IIID Santa Cruz encontra‑se em exibição no Museu de Marinha em Lisboa, sendo um testemunho vivo da primeira travessia aérea do Atlântico Sul (pt.wikipedia.org). Existem também réplicas desta aeronave no Museu do Ar em Alverca e instaladas no monumento do Belém, em Lisboa, honrando a memória de Gago Coutinho e Sacadura Cabral (ex-ogma.blogspot.com).
Estes museus mantêm vivo o legado do Fairey IIID, permitindo ao público e a investigadores observar directamente as dimensões, os sistemas de flutuadores e a fuselagem de madeira que tornaram possível a travessia histórica. A preservação destas aeronaves enfatiza a importância do Fairey IIID como marco de engenharia e símbolo de inovação tecnológica.
O Fairey IIID representa mais do que um meio de transporte: é um símbolo da capacidade humana de adaptação e inovação. Através dele, Portugal, sob a liderança de Gago Coutinho e Sacadura Cabral, demonstrou que era possível aliar engenho técnico e audácia humana para alcançar objetivos desafiantes.
© 2021 Lusitânia 100 | Desenvolvido por First Media